sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Retratos do Imaginário


Retratos imaginários do Histérico
17 de agosto de 2011.

Ao escutar os pacientes algumas imagens se impõem ao clínico, são imagens que traduzem de maneira figurada os elementos principais da teoria psicanalítica e que o praticante pode eventualmente reconhecer no curso de seu trabalho.O psicanalista se serviria destas imagens para efetuar a metamorfose do abstrato para o perceptível e propor sua interpretação. Assim em vez de se perguntar como intervir? Se interrogasse Que devo fantasiar?

Que retratos imaginários se esboçam na cabeça do analista na escuta de seu paciente histérico ou em face da histericização transferencial?

P. 77 homem histérico e P 78 a mulher.

Ao escutar nossos pacientes histéricos, devemos nos lembrar que este sofre por não saber quem é, por não conseguir deter, nem que seja por um instante, o insustentável desfile das imagens que o povoam, e submetido às quais ele não consegue evitar oferecer-se aos outros.

Somos nós, os psicanalistas que no silêncio da escutam, imaginamos mentalmente, sob a forma de uma cena, a origem do sofrimento experimentado pelo neurótico. À maneira de um filtro teórico situado entre o ouvido e a boca do psicanalista, entre o que ele escuta e o que diz, o cenário da castração se revela, assim um instrumento mental notável no trabalho do clínico. Assim devemos formular duas observações importantes:
1)      a cena imaginária que nos representamos mentalmente enquanto o analisando fala conosco nunca reproduz, tal e qual, a épura da fantasia de castração estabelecida pela teoria mas uma de suas variações: a específica de um momento exato da sessão.
2)      trata-se de imagens que não são queridas pelo psicanalista, mas que a ele se impõem espontaneamente durante sua escuta ativa.

Assim quando o analista rompe o silêncio de sua escuta e intervém, sua intervenção deve ser considerada como uma colocação em palavras da cena fantasística que se desenrolava nele mentalmente e que sob forma de imagens exprimia a origem inconsciente do sofrimento vivido por seu paciente. Como seqüência temos p. 80 e 81


O Psicanalista olha aquilo que escuta
Às diversas variedades da ação psicanalítica são o silêncio, as intervenções explicativas e a interpretação, devemos agora acrescentar a quarta que é a escuta visual, esta ligada ao um estado de visão transitório e fugaz, vivido pelo psicanalista. A escuta fica tão polarizada no dizer do paciente que o analista não apenas esquece seu eu, como também olha aquilo que escuta, aqui houve uma identificação singular entre o próprio analista e a materialidade sonora a palavras pronunciadas pelo analisando. É como se a pessoa do analista se deslocasse à maneira de um objeto erógeno, por três zonas do corpo: o ouvido, a boca e os olhos. O seguinte esquema: P 81

O tratamento e seu término
A análise reproduz a doença de que deve tratar, por isso ela constitui,pura e simplesmente, uma histeria que o analisando e o analista têm que resolver juntos na transferência. Num momento avançado da análise o analisando deve se deparar com uma estado subjetivo e inconsciente de aceitar ou recusar a atravessar a prova da angústia de castração. Este estado é o apogeu e não o fim da análise. Numa palavra, a maneira como o neurótico termina sua análise decide sobre sua cura.

Devemos sublinhar que numa análise o analisando se separa duas vezes: primeiro, dele mesmo, depois do analista. O primeiro registro é temporal e se desenrola em 3 fases:
1)      fase inicial em que a histeria de transferência se instaura progressivamente,
2)      fase mediana caracterizada por um estado de crise aguda ao analisando e que marca o ponto de exacerbação paroxística da neurose transferencial, a prova da angústia
3)      fase final onde se elaboram o luto e o processo de auto-separação resultantes da proa da angústia. Existe aqui uma concordância entre o analista e ao analisando.

O segundo registro é o processo psíquico do tratamento, se desenrola num tempo ilimitado que se inicia na idéia de consultar um psicanalista até um além desconhecido...P 88

Numa situação de análise a ação do psicanalista deve conduzir o paciente ao estado de angústia, reativar a angústia que antes havia se convertido nos sintomas, o paciente deve atravessar a angústia. Assim o analista é o semblant: o Outro castrado, o Outro da Lei e o Outro do desejo.
O primeiro é o horror do buraco da castração, este não representa não apenas uma ameaça que assusta mas também um apelo que seduz e tranqüiliza, a fantasia de castração é angustiante mas protege a criança do perigo de experimentar um gozo sem limites.
O segundo é uma das versões paternas de proibir e punir severamente o desejo do incesto, esta está na origem da neurose obsessiva. “Tenho medo da Lei, mas não deixe de lembrá-la a mim ininterruptamente: peço-lhe que me dê ordens me proíba e se preciso for me castigue.”
O terceiro é também uma figura paterna a de um pai afeito ao gozo e que goza com todas as mulheres, um pai capaz de abusar de mim, de me violentar e gozar com  sofrimento: a mesma contradição teme mas se sente atraído...”Tenho muito medo de você, mas tome-me em seus braços e faça de mim a presa de seu desejo perverso.” Aqui a perversão é evocada, mas não é estrutural o neurótico sonha em sê-lo.

O desejo do neurótico é um desejo de angústia
A maior dificuldade do analista consiste, simultaneamente, em criar um estado de perigo na análise, suscitar a eclosão de uma nova angústia no analisando, e lograr que ele renuncie à angústia com que vinha convivendo desde sempre. Mas de que modo?
A solução histérica para o problema da angústia é AMAR a angústia, apegar-se a ela de corpo e alma, até se tornar coisa; e isso apesar do sofrimento dos sintomas. Para que ele se livre radicalmente de sua angústia, tem que encontrar, primeiro, uma nova angústia produzida pela análise, e então atravessá-la para poder deixá-la.

LER nota de rodapé P. 92.



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