sexta-feira, 19 de agosto de 2011

A Histeria


10 de Agosto de 2011
Comentários sobre o livro A Histeria: Teoria e Clínica Psicanalítica de J. D. Nasio.

O útero na Histeria: uma fantasia fundamental
Antes de iniciarmos propriamente o tema de nosso encontro de hoje devemos recordar que a fantasia de castração na base de toda neurose é também a fantasia que todo ser falante, neurótico ou não, não para de superar e superar. No que se refere ao neurótico, esta fantasia domina sua vida pois esta vida é inteiramente organizada em função da angústia de castração, núcleo da fantasia.

Existe na Histeria uma cena fundamental, o seu conteúdo poderia ser resumido pela seguinte cena, dois corpos entrelaçados, um homem e uma mulher concebem um filho sem penetração genital. O histérico seria neste tanto o ator desse sonho como o lugar que abrigaria os dois corpos místicos., assim ele faz de si o lugar protetor de sua união sublime. A fantasia fundamental aqui é ligada a identificação primordial de encarnar o útero, órgão matricial oco que contém o encontro real onde se gera a vida, o útero assume duas condições em suas fantasias:
1º )  órgão ameaçado de mutilação quando na penetração sexual (fantasia recorrente de horror ao abuso ou ao estupro em muitas pacientes histéricas)/Fantasia de castração.
  receptáculo ideal do homem e da mulher desprovidos de sexo/Fantasia fundamental.

Assim existem dois tipos de útero-falo que o histérico se identifica: órgão interno, a ser preservado e nunca exposto ou é o órgão receptáculo. Deste modo entende-se o porquê da aproximação do histérico da bissexualidade como muito já foi dito sobre o caso Dora. De fato na histeria não existe uma oposição dos sexos, existe um fácil deslizamento no papel masculino para o papel feminino.Mais acertado seria de os chamar de hors-sexuels, fora do sexo. Isto porque o histérico ignora se é homem ou mulher, a histeria consiste uma impossibilidade de assumir psiquicamente um sexo definido, histeria como uma incerteza sexual nem homem, nem mulher.

A diferença entre as fantasias histéricas, obsessiva e fóbica.
Existe uma fantasia originária de castração em todas as neuroses.

1º) a cena da fantasia obsessiva, fantasia inconsciente e submetida à pressão do recalcamento: p. 69
2º ) aqui é um ouço mais complicado pois a angústia de castração suscitada pelo desejo da criança é essencialmente em relação ao pai e não mais exclusivamente em relação à mãe, como nas neuroses histérica e obsessiva. É o pai que se acha no centro da fobia, mesmo que o desejo incestuoso pela mãe continue a ser o ponto de partida. O pai se apresenta como objeto primeiro em desejo de morte, parricida e depois como objeto de um desejo de amor:. A angústia de castração despertada pelo amor ao pai é rejeitada e projetada no mundo externo, esta angústia fixa-se num objeto transformado então em objeto ameaçador do qual o fóbico terá que fugir para evitar de ser invadido por um medo consciente, mais tolerável do que o é a angústia inconsciente de castração: p. 70.

Assim é como se a criança vivesse as voltas de ser sufocado pelo pai, a zona erógena em torno da qual se organiza a fobia não se limita a uma zona localizada mas estende-se à totalidade dos tecidos musculares

Na neurose, não importando sua expressão, o sofrimento vivido pelo sujeito é a expressão dolorosa do combate do eu para projetar para fora a angústia de castração contida em sua fantasia.

Na F. O=a ameaça entra pelo ouvido, angústia  resultante submetida ao recalque se desloca para o pensamento e se fixa numa idéia anódina.
Na F. F=a ameaça entra pelos orifícios de todo o corpo, a angústia resultante submetida ao recalque acaba sendo projetada, instalada e localizada no mundo externo.
Na F. H=a ameaça entra pelos olhos, a angústia resultante submetida ao recalque se converte em sofrimento da vida sexual, numa erotização geral do corpo, paradoxalmente acompanhada por uma inibição localizada no nível da zona genital.

Resumindo: Gozar constitui, para o histérico, um limite derradeiro e perigoso que, uma vez transposto, fá-lo-ia mergulhar inevitavelmente na loucura, explodir e se dissolver no nada. Assim ele ser recusa a gozar, para se manter afastado do gozo e persistir numa recusa, o histérico inventa inconscientemente uma fantasia protetora: a fantasia angustiante de castração e cria a ameaça fictícia de perder sua força fálica. Esta medida protetiva o salva mas o perturba em sua maneira de perceber os seres a que ama e odeia, como um lente deformadora, a fantasia de castração mergulha o neurótico num mundo em que a força e a fraqueza decidem em termos exclusivos sobre o amor e o ódio.
“Amarei e odiarei meu parceiro conforme a percepção de sua força ou fraqueza fálica.”
Dominado e Dominador num mundo onde o único verdadeiro domínio é o não gozo.



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