Dias atrás, assistindo aos telejornais, ouvi noticias que me deixaram no mínimo curioso, a 1ª ) foi que o Conselho Nacional dos direitos da criança, estava discutindo em Goiânia em audiência pública, a violência contra a criança e o adolescente, especialmente no diz respeito ao desaparecimento de membros dessa população, noticias estas que estiveram alguns dias em evidencia na mídia, com o desencadeamento da operação 6º mandamento no inicio deste ano, onde a policia federal prendeu vários membros da policia de elite goiana “os homens de preto”, e depois de então, essa mesma, foi retirada das ruas para reformulação do seu plantel, e também mudanças estruturais, incluindo mudanças na cor dos uniformes e das viaturas, a acusação que pesou contra essa policia na época foi a de que, alguns de seus membros se associaram e formaram um grupo de extermínio, foram acusados de estarem exterminando pessoas envolvidas com o uso e trafico de drogas (supostamente uma grande parte era de crianças-adolescentes). No mês de agosto, esta policia voltou a atuar com a cor das viaturas e a do uniforme, igual à das rádio patrulhas.
2ª ) Coincidentemente e contraditoriamente, neste mesmo dia, em que se discutia em audiência publica, os desdobramentos das violações dos direitos da criança-adolescente no caso citado acima, principalmente o direito à vida, era anunciada a volta dessa polícia com a sua antiga cor “o preto”, à rua. Mudar a cor das viaturas e a do fardamento, não terá peso sobre a atual realidade social, a não ser que, juntamente com a volta da antiga cor, voltem também as antigas práticas “o extermínio”. Segundo o comandante geral da PM-GO, Coronel Edson Araújo, o objetivo é reprimir contundentemente a violência na capital. Entende-se que o poder público tem que tomar providências sim, pois o mês de Novembro, se tornou o mais violento da história da capital goiana, até o dia 29 do mês em questão, 444 pessoas já haviam sido assassinadas, e ainda faltavam mais de 30 dias para terminar o ano.
Mas tem-se que ter o cuidado, pois a mídia coloca as coisas como se tudo fosse somente uma relação de causa e efeito, e fazendo assim, isola as outras variáveis que estão na estrutura do fenômeno violência.
Ao noticiarem que 90% dos homicídios envolvem crianças-adolescentes, e tem relação com o uso e tráfico de drogas, eles estão dizendo em uma linguagem subliminar, que os assassinados, são usuários de drogas que não pagaram os traficantes, ou traficante que mata o outro, por disputa de ponto de venda de drogas, nessa visão simplista, então, se você não é criança-adolescente-traficante, criança-adolescente-usuária ou traficante, ou usário (esse aqui adulto), ou não está devendo para algum traficante, só tem 10% de chances de ser assassinado kkkkkkk, parece uma piada, mas é sério, a mídia coloca, e a maioria da população engole isso. A mídia com essa visão massificante e simplista, colocando todos (traficante e usuário) no mesmo barco, nos tira a oportunidade de entender que o usuário de drogas é um cidadão de direitos, cujo principal direito é a vida, responsabilizam unicamente o sujeito, e por outro lado tiram a responsabilidade do poder publico de fomentar políticas para a prevenção, a reabilitação e a reinserção social.
Essa visão coloca como se, as pessoas que usam drogas não param, porque não querem parar. Como se ser usuário de drogas, fosse uma escolha pessoal, algo que o sujeito escolheu ser, tendo um monte de opções como: uma boa casa para morar, alimentação digna, as melhores vestimentas, os melhores calçados, sempre receberam cuidados dos pais, não estou querendo dizer que as pessoas se envolvem com essas praticas somente por não terem essas necessidade atendidas, essas são apenas variáveis que influenciam e estão na raiz desse fenômeno. Já o traficante é um sujeito que realiza atos, (mesmo sabendo, que muitas vezes, os sujeitos se vêem obrigados a traficar, ou roubar, para sustentar o vicio) e todos os atos tem suas conseqüências, então se existe uma lei que o responsabiliza por seus atos, que seja responsabilizado na forma dessa lei, mas é preciso entender que tanto, o tráfico, quanto o uso de drogas são um sintoma individual, e ao mesmo tempo um sintoma social, que cada sujeito poderá vivê-lo ou não, de forma singular, de acordo com a sua história de vida.
Também não pode-se perder de vista, que os sujeitos envolvidos neste cenário, ocupando o papel tanto de usuário como o de traficante, só de estarem ocupando um desses papéis, já estão sendo penalizados, e possivelmente poderão ser penalizados de uma forma mais contundente no decorrer de sua existência, como está sendo mostrado todos os dias nos telejornais.
Autor: José Divino
Núcleo da Criança e do Adolescente (NAEPP – Núcleo de Atendimento Estudo e Pesquisa em Psicanálise); Membros: José Divino, Lívia e Fátima.
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