segunda-feira, 7 de novembro de 2011

São apenas as crianças que não sabem ouvir NÃO?

Em meus atendimentos (minhas escutas), tanto na clinica como na instituição, algo que tem me chamado bastante atenção é a dificuldade que tanto crianças, adolescentes e adultos tem, em ouvir um “não” (lidar com os limites), e acolhê-lo, e essa dificuldade em lidar com tais situações me fez lembrar de Freud, do tão famoso complexo de Édipo, onde o pai tem um papel fundamental, estruturante. Me lembrei também de Lacan que postula que: não importa se o pai está ou não presente, se é ou não é  um bom pai. O que vai importar é o significante nome-do-pai, este vai dividir o ser feminino em mãe e mulher. São os efeitos da presença no inconsciente do significante nome-do-pai que intervém no complexo de Édipo, introduzindo na criança a norma fálica, organizando assim a relação entre a criança, a mãe e a função paterna (COSTA, 2007). Em minhas escutas, tenho percebido que o pai está presente, mesmo que nunca tenha existido na vida da pessoa, está presente na ausência.
No meio deste ano discutimos aqui no NAEPP – Núcleo de Atendimento, Estudo e Pesquisa em Psicanálise, justamente sobre uma possível “morte do pai” postulado por Freud, O pai postulado por Freud, o que instala a ORDEM, o pai simbólico (aquele que mostrava os caminhos), que tem suas raízes na cultura, na religião e na tradição familiar, que permitia a estruturação psíquica do sujeito nos anos de Freud, esse pai, possivelmente está morto, como função estrurante, mas está vivo ao mesmo tempo, no clamor que as pessoas fazem por ele.  As pessoas ao clamarem pelo pai morto, estão lhe dando vida, é como se ele estivesse dormindo e querem acordá-lo, ou o melhor aqui seria ressuscitá-lo, já que supostamente está morto. Este pai morto-vivo está morto, mas existe um pai que está bem vivo, é o pai, filho deste pai que está morto vamos dizer assim, ou seja um novo pai, com roupagem diferente, um pai fraco, que não estrutura e não instala a ORDEM, ou seja não tem efeitos na ordem do simbólico, é um pai real. Esse pai real (Que não mostra nenhum caminho, pois ele também espera que lhe seja mostrado um caminho) clama por um pai, (O que opera o corte, instala a ordem, as normas, quer alguém que lhe mostre o caminho) e ao mesmo tempo não sabe como ser um pai, (Pois não passou pela experiência do “Pai de Freud”). Estas são as pessoas que estão falando na clinica e na instituição, tentando à sua maneira constituir-se como sujeito desejante. E para tal, tem que estar bem claro para o psicanalista, qual é o seu papel. O papel do psicanalista, não é o de desejar algo para alguém, mas de ser aquele graças a quem o sujeito possa chegar até seu desejo.

Autor: José Divino

Núcleo da Criança e do Adolescente (NAEPP – Núcleo de Atendimento Estudo e Pesquisa em Psicanálise); Membros: José Divino, Lívia e Fátima.

Avenida T-53 N 249 Setor Marista.

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