segunda-feira, 28 de novembro de 2011

A sociedade contemporânea está se transformando em um palco de perversões?

A sociedade contemporânea está se transformando em um palco de perversões?

Vive-se na atualidade, uma grande onda de violência. Você liga a televisão na segunda –feira, e as chamadas dos telejornais que ganham mais destaque são as relacionadas à violência, mais especificamente aos homicídios, em Goiânia, o numero de homicídios deste ano, já superou o total de todo o ano passado. Mas há também os casos de violência contra as mulheres, as delegacias que atendem à essa população nunca estiveram tão movimentadas, outra população muito atingida por esse fenômeno, são as crianças-adolescentes (crianças até 12 anos e adolescente, dos 12 aos 18 anos, segundo o E.C.A), as delegacias que atendem essa população, estão funcionando a todo vapor, os Conselhos Tutelares que alimentam as Delegacias e os Abrigos  estão bombando, esses meninos (as) são produto, mas também são produtores de violência, uma vez que esta população responde por uma parcela considerável da violência que acontece na sociedade contemporânea, e também podemos pensar que estes (crianças-adolescentes) podem ser o futuro da violência, se algo não for feito, no sentido de tratar a violência nas suas raízes, e não apenas ficar apagando o fogo que está na superfície, e deixando as brasas que  não estão na superfície acesas. 

 Mas isso não é algo novo, no ano 2000, a Organização Mundial do Trabalho (OIT), nos mostrava números alarmantes em suas estatísticas:  5.7 milhões de crianças realizavam trabalhos forçados ou em regime de servidão, 1.8 milhões estavam envolvidas na prostituição e pornografia, e 1.2 milhões foram vítimas de tráfico.  E o que me tem chamado bastante atenção nas entrevistas apresentadas na televisão, de grande parte dos sujeitos que cometem delitos, é que não parece haver arrependimento de tais fatos, parece que não existe a marca da “culpa”.

            A escuta desses dados da Organização Mundial do Trabalho (OIT), e dos noticiários de televisão vem ao encontro de um tema muito discutido aqui no NAEPP – Núcleo de Atendimento, Estudo e Pesquisa em Psicanálise, este ano, que até foi tem de um Mini-curso em Julho, sobre uma possível   “morte do pai, postulado por Freud”.

Na realidade, vive-se em um tempo em que o “o pai Freudiano”, aquele que instalava a norma fálica, a ordem, o pai simbólico (aquele que mostrava os caminhos), que tem suas raízes na cultura, na religião e na tradição familiar, que permitia a estruturação psíquica do sujeito nos anos de Freud, esse pai, possivelmente está morto, ou no mínimo está passando por uma crise existencial muito forte, pois o pai atual (Pai Real) não sabe ser pai (nos termos do pai Freudiano), pois não passou pela experiência do “pai postulado por Freud” o que operava na ordem do simbólico, esse “coitado” também está se debatendo para saber o que é ser pai, ou como ser pai, temos aqui um pai que opera no real, não quer dizer que não opere simbolicamente, opera sim, mas em uma nova ordem simbólica, que não provoca no inconsciente do sujeito, os mesmos efeitos do pai dos tempos de Freud, e esse sujeito-pai está perdido, nessa nova ordem simbólica. Mas o que isso tem a ver com o tema deste artigo? A sociedade contemporânea está se transformando em um palco de perversões? Parece estar bastante relacionado, pois o que se vê na atualidade é que a sociedade contemporânea está meio perversa com essa ausência de pai, pois se analisarmos esse pai real, não fez efeitos no inconsciente como função paterna, mesmo que não tenha sido barrado pela mãe, porque nem precisa, pois se é fraco e não faz efeitos na antiga ordem simbólica (do pai postulado por Freud), então nem precisa ser barrado. Neste sentido pode-se dizer que esses desdobramentos estão produzindo sujeitos perversos (não quero dizer pessoas que só façam perversidades) e sim perversos no sentido de não comprometidos com a ordem do pai Freudiano (seriam vamos dizer assim uns perversos mais bonzinhos). E é isso que está aparecendo com uma freqüência considerável em minhas escutas, tanto clinica, como institucional, sujeitos que querem atingir seus objetivos, não estão ligando muito para as normas e as regras, se for preciso passam por cima dos outros para tal.

Percebo na minha experiência que os sujeitos ainda não estão sabendo como lidar com a falta do pai Freudiano, apresentam profundas dificuldades para viverem no mundo norteados pelo pai real, não sabem ouvir não, não respeitam as leis, não sabem perder.  E  na vida, se o sujeito não sabe perder, e não consegue lidar com as regras (com os nãos da vida) tem-se, sérias dificuldades de convivência, o que parece estar bem representando na crise generalizada de violência que está presente na sociedade contemporânea. E são esses sujeitos (produtos e produtores de violência) que estão vivendo sob os efeitos de uma nova ordem simbólica, que estão dando voz para a nossa escuta.

Autor: José Divino

Núcleo da Criança e do Adolescente (NAEPP – Núcleo de Atendimento Estudo e Pesquisa em Psicanálise); Membros: José Divino, Lívia e Fátima.

Avenida T-53 N 249 Setor Marista.

sábado, 12 de novembro de 2011

Texto apresentado na Jornada da Delegação GOIAS/DF da Escola Brasileira de Psicanálise



Novembro 2011

Anna Rogéria N. de Oliveira

“Anorexia, feminino e contemporaneidade”



Etimologicamente, o termo anorexia deriva do grego "an-", deficiência ou ausência de, e "orexis", apetite. Também significando aversão à comida, enjôo do estômago ou inapetência, as primeiras referências a essa condição surgem com o termo fastidium em fontes latinas da época de Cícero (106-43 aC.) e vários textos do século XVI. Durante a Idade Média, as práticas de jejum foram compreendidas como estados de possessão demoníaca ou milagres divinos. Bell, em 1985, relata o comportamento anoréxico realizado por 260 santas italianas aparentemente em resposta à estrutura patriarcal a qual estavam submetidas, e conhecido como “anorexia sagrada”.



A psicanálise verifica que esses transtornos alimentares não ocorrem apenas na aparência e em relação ao corpo. No fundo, são sintomas tributários das vicissitudes do amor e do desejo e do gozo. Temas estes articulados com a cultura. Neste trabalho gostaria de propor a seguinte questão: Seria assim a anorexia uma das traduções da impossibilidade do feminino  na  contemporaneidade?



Freud sustenta desde o início de seus trabalhos que as modificações corporais presentes na histeria eram expressões de uma afecção psíquica. Freud utilizou a observação, a descrição e o detalhamento do sintoma como seu método de investigação, a fim de demonstrar a reciprocidade da relação entre corpo e alma.



Segundo BIDAUD (1998), a anorexia é definida como uma patologia dos laços amorosos com o outro e consigo mesma; seria, fazendo um jogo de palavras, uma amorexia. É importante assinalar que, quando a anoréxica se entrega à restrição alimentar, por mais séria que seja, isso não a incomoda. Ela se posiciona em sintonia com esse jejum alimentar, tornando-o problema para o outro. Seu sintoma é a gordura (ou as curvas) que elas vêem em uma determinada área. É um excesso irredutível localizado no seu corpo.





Na anorexia o corpo toma dimensões fálicas onde o controle do mesmo subverteria a ordem do ser e do ter numa eterna militância do ter a morte passa a ser um mito debatido no corpo no cotidiano. O corpo serve então de instrumento de expressão de controle (ou ilusão deste) do seu desejo até mesmo nos limites da morte. Não tendo medo da morte a anoréxica se faz criadora do seu fim, mas também da sua origem. A dialética da finitude e do ser infinito é um dos ecos da atualidade. Numa época onde o pai está morto..ou pelo menos decaído como inscrever a ordem e a imposição dos limites? O corpo como um campo de batalha é um dos mandamentos de nosso tempo. Sob esse aspecto poderíamos pensar no que o discurso contemporâneo oferece para esse corpo e nas fraturas subjetivantes em que ele se vê sendo lançado.



A anorexia é uma das traduções da impossibilidade do feminino na contemporaneidade, ou da tentativa fracassada, do sujeito atual em se inserir virtualmente na cena do espetáculo.  Apresenta um espetáculo que responde à perplexidade de Freud, já que, em sua pretensão fantasística, ela é aquela que, por excelência, sabe o que quer. Porém, o que ela ignora é que esse querer determinado sustenta uma negação do desejo.  "O querer garante a presunção do saber absoluto, mas esse corpo subjugado constitui uma barreira para algo que não quer se expressar, que é o desejo pelo outro" (ASSOUN, 1993, p. 118). Renegação da sedução: desencanto e ausência de sexualidade. Gozo.



Gozo em sua tenacidade, de superar o esperado, de seu superinvestimento no vazio, sustentando uma fantasia de onipotência, que até pode vir a se expressar narcísicamente através de ideais éticos e estéticos, de perfeição física e moral, o resultado dessa estratégia será sempre o fracasso.



Essa questão se faz explícita, se concretiza no próprio corpo da anoréxica, uma vez que atingir ao corpo ideal corresponderia a um padrão que, ao mesmo tempo, a identifica e a faz perder sua identidade subjetiva. Um corpo uni-forme, que devora a diferença, que não sustenta a bissexualidade psíquica constitutiva do sujeito. A cega determinação em negar a questão da falta se articula com a construção da imagem de um corpo ideal que lhe é particularmente conveniente. Promove ainda a construção de uma nova identidade através de um "sou anoréxica", ou ainda, posiciona-se pela palavra dos familiares: "Tenho uma filha anoréxica". Solução de posicionamento subjetivo, de localização do gozo. Em outras palavras, nomear-se no feminino através do padecimento...o ser e nada símbolo ou melhor nova ordem simbólica para se inscrever no gozo do feminino.



Por não conseguir situar o outro na sua liberdade de sujeito desejante, a anoréxica tenta uma frágil sustentação ignorando o outro como tal. Ela se isola do desejo dos homens e inscreve em seu corpo a marca de sua estranheza. Apaga de seu corpo todo sinal exterior de feminilidade, disfarçando as saliências de seu sexo, ou então, oferecendo, através de sua aparência trágica, sua versão grotesca. O corpo é também aquele que condensa o valor erótico. É por ser libidinal que o corpo mortificado se opõe ao que lhe resta de vivo. O gozo se impõe como periférico, localizado nas bordas corporais, em objetos entendidos como que fora do corpo. Nesse sentido o corpo se opõe à carne – carne como corpo morto, esvaziado de gozo, deserotizado. O que ocorre é que, se por um lado a libido vivifica, por outro lado o significante mortifica, esvazia o gozo.



O próprio gozo porta em si um furo substancial, que nos mostra que o corpo encontra-se esvaziado de gozo, ou seja, não há gozo total, existe sempre um além, existe sempre um “mais de gozar”.



Segundo QUEIROZ (2004), em um levantamento da literatura sobre os "novos sintomas" e a contemporaneidade, podemos enxergar nossos tempos como o tempo da desrregulação. A regência da economia psíquica, que antes era exercida pelo recalque, agora é exercida pelo gozo. Nestes tempos em que a liberdade individual é colocada em primeiro plano, a rotina é banida, o tempo é vivido de modo retalhado com uma crescente desvalorização do passado, criando assim uma temporalidade operatória que substitui a histórica, desvalorizando o conceito de futuro enquanto produzido.



A clínica da contemporaneidade parece apontar para uma ausência de corpo, no sentido até de uma descarga maciça das forças pulsionais. A análise vai permitir o remanejamento através do Outro e o retorno da força pulsional sobre o próprio sujeito, isto é, sua libidinização, para que possa nomear seus objetos de desejo, em lugar de sofrer de tanto gozo. Dito de outro modo, a análise buscará a construção da referida corporalidade do eu através da transformação das forças pulsionais a partir da inserção do sujeito na cadeia significante.



Marcelo BIDEAU (1998) lembra que etimologicamente, "adicto" significa escravo, mas também pode significar não-dito, e é a partir dessa leitura que a Psicanálise vai poder escutar o corpo da anoréxica. Falar do corporal significa, fundamentalmente, apontar, por um lado, para as descrições corporais próprias de alguns fenômenos pulsionais, e, por outro, para o caráter unitário do psíquico e do somático. Uma resposta que torna urgente em saber o que vem a ser o feminino na contemporaneidade. A anorexia seria então uma resposta a uma pergunta que instaura uma lógica de gozar no imperativo...Já que se tem que gozar até o infinito então não...o nada... Nesta configuração cultural em que a falta, a categoria do impossível, é cada vez mais expulsa do discurso. E através de seu corpo, limite fronteiriço de sua subjetividade, que mais uma vez o sujeito acha alguma forma de se colocar enquanto sujeito desejante, sujeito movido pela falta, sujeito que vive através da falta.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSOUN, P.L. Freud e a mulher. Rio de Janeiro. Zahar, 1993.

BIDAUD, É. Anorexia mental, ascese, mística: uma abordagem psicanalítica. Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 1998.

FREUD, S. Casos clínicos I: Anna O. e Emmy Von N. 1895. Rio de Janeiro: Imago, 1997.

______. História de uma neurose infantil. 1918. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996. v. 17.

LACAN, J. O estádio do espelho como formador da função do eu tal como nos é revelada na experiência psicanalítica. In: Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998. p. 96 – 103.

_______Seminário, livro 11 de Lacan: Os 4 conceitos fundamentais da psicanálise (1963-64). Rio de Janeiro. Jorge Zahar, 1998.

______. Os complexos familiares na formação do indivíduo: ensaio de análise de uma função em psicologia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.

MELMAN, C. O homem sem gravidade: gozar a qualquer preço. Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 2003.

NASIO, J.D. A histeria teoria e clínica psicanalítica. Rio de Janeiro. Zahar, 1991.

QUEIROZ, E. F. A clínica da perversão. São Paulo: Escuta, 2004.

RECALCATI, M. Clínica del vacío: anorexias, dependencias, psicosis. Madrid: Editorial Sintesis, 2003.

RIBEIRO, C. N. G. Ana (orexia): uma imagem obscena. Recife: UNICAP, 2008. Dissertação (Mestrado em Psicologia Clínica), Centro de Teologia e Ciências Humanas, Universidade Católica de Pernambuco. Recife, 2008.

SOLER, Colette. 1989. O corpo no ensinamento de J. Lacan. Campo Freudiano. Belo Horizonte.


quarta-feira, 9 de novembro de 2011

IV Jornada da Delegação Geral GO/DF da Escola Brasileira de Psicanálise


IV Jornada da Delegação Geral GO/DF da Escola Brasileira de Psicanálise
11 e 12 de novembro de 2011 - auditório da Faculdade de Educação da UFG 
Que Lugar para o sujeito na nova ordem simbólica?
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Na contemporaneidade, não é mais o Ideal que funciona como bússola para as identificações do sujeito. A parceria estabelecida entre o capitalismo e o discurso da ciência produz em profusão objetos para a satisfação dos indivíduos, objetos que levam, por estrutura, ao sem medida do gozo, não deixando lugar para a falta e, consequentemente, impedindo o nascimento do desejo, intrínseco ao aparecimento do sujeito como postulado por Lacan.
A IV Jornada da Delegação Geral GO/DF da Escola Brasileira de Psicanálise será dedicada a interrogar as conseqüências do que chamamos ‘a nova ordem simbólica’ e suas fragilidades para o sujeito na sua relação com seu desejo e com seu gozo em sua singularidade. Como o psicanalista responde, nos dias atuais, para manter-se na contramão desse movimento, e assegurar a operatividade do ato analítico? É também outra questão que não perderemos de vista.  
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PROGRAMA
11 de Novembro – sexta-feira:
19:00 às 19:45 - Inscrições e entrega de material
19:45Abertura
Que Lugar para o Sujeito na Nova Ordem Simbólica? Ruskaya Maia – Coordenadora Geral da DG GO/DF
20:00Conferência 
O Sujeito e os Imperativos Contemporâneos - Maria do Rosário Collier do Rêgo Barros – AME da Escola Brasileira de Psicanálise
12 de Novembro – sábado:
09:00 – Mesa I: O sujeito, a criança e a família
A criança na contemporaneidade: A angústia que advém do sem sentido - Ceres Lêda Félix de Freitas Rubio
 Reflexões sobre o sofrimento da criança - Ana Paula Fernandes Rezende
Laços familiares contemporâneos e seus impasses - Giovana Bessa Borges Heinemann
Uma clínica do bem viver - Maria Noemi de Araújo         
Mediadora: Rosangela Maria Ribeiro 
10:30 – Mesa II: A clínica lacaniana e o sujeito hipermoderno
Anorexia e gozo no corpo Anna Rogéria Nascimento de Oliveira
Em que crê quem não crê? Giovanna Quaglia
  Uma inibição contemporânea - Ruskaya R. Maia
  A interpretação e seus efeitos na clínica psicanalítica - Denizye Aleksandra Zacharias
 Mediadora: Giovana B. B. Heinemann 
12:00 às 14:00 Intervalo
14:00 – Mesa III: A clínica inventada na via do último Lacan
 Além do saber na experiência analítica - Jaqueline Moreira Coelho
  ▪ A Topologia na Clínica Lacaniana - Waléria Maria Borges Vieira da Paixão
  O analisar hoje... Ordália Alves Junqueira
 ▪ A clínica psicanalítica hoje - Cristiano Alves Pimenta
 Mediadora: Ruskaya R. Maia
15:30 – Pausa para o café
16:00 – Mesa do Passe
Formação em síntese - Sérgio Passos Ribeiro de Campos – AE da Escola Brasileira de Psicanálise
Comentários: Maria do Rosário Collier do Rêgo Barros – AME da Escola Brasileira de Psicanálise 
17:30 – Encerramento
Waléria Maria Borges Vieira da Paixão

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

São apenas as crianças que não sabem ouvir NÃO?

Em meus atendimentos (minhas escutas), tanto na clinica como na instituição, algo que tem me chamado bastante atenção é a dificuldade que tanto crianças, adolescentes e adultos tem, em ouvir um “não” (lidar com os limites), e acolhê-lo, e essa dificuldade em lidar com tais situações me fez lembrar de Freud, do tão famoso complexo de Édipo, onde o pai tem um papel fundamental, estruturante. Me lembrei também de Lacan que postula que: não importa se o pai está ou não presente, se é ou não é  um bom pai. O que vai importar é o significante nome-do-pai, este vai dividir o ser feminino em mãe e mulher. São os efeitos da presença no inconsciente do significante nome-do-pai que intervém no complexo de Édipo, introduzindo na criança a norma fálica, organizando assim a relação entre a criança, a mãe e a função paterna (COSTA, 2007). Em minhas escutas, tenho percebido que o pai está presente, mesmo que nunca tenha existido na vida da pessoa, está presente na ausência.
No meio deste ano discutimos aqui no NAEPP – Núcleo de Atendimento, Estudo e Pesquisa em Psicanálise, justamente sobre uma possível “morte do pai” postulado por Freud, O pai postulado por Freud, o que instala a ORDEM, o pai simbólico (aquele que mostrava os caminhos), que tem suas raízes na cultura, na religião e na tradição familiar, que permitia a estruturação psíquica do sujeito nos anos de Freud, esse pai, possivelmente está morto, como função estrurante, mas está vivo ao mesmo tempo, no clamor que as pessoas fazem por ele.  As pessoas ao clamarem pelo pai morto, estão lhe dando vida, é como se ele estivesse dormindo e querem acordá-lo, ou o melhor aqui seria ressuscitá-lo, já que supostamente está morto. Este pai morto-vivo está morto, mas existe um pai que está bem vivo, é o pai, filho deste pai que está morto vamos dizer assim, ou seja um novo pai, com roupagem diferente, um pai fraco, que não estrutura e não instala a ORDEM, ou seja não tem efeitos na ordem do simbólico, é um pai real. Esse pai real (Que não mostra nenhum caminho, pois ele também espera que lhe seja mostrado um caminho) clama por um pai, (O que opera o corte, instala a ordem, as normas, quer alguém que lhe mostre o caminho) e ao mesmo tempo não sabe como ser um pai, (Pois não passou pela experiência do “Pai de Freud”). Estas são as pessoas que estão falando na clinica e na instituição, tentando à sua maneira constituir-se como sujeito desejante. E para tal, tem que estar bem claro para o psicanalista, qual é o seu papel. O papel do psicanalista, não é o de desejar algo para alguém, mas de ser aquele graças a quem o sujeito possa chegar até seu desejo.

Autor: José Divino

Núcleo da Criança e do Adolescente (NAEPP – Núcleo de Atendimento Estudo e Pesquisa em Psicanálise); Membros: José Divino, Lívia e Fátima.

Avenida T-53 N 249 Setor Marista.