SOBRE
O AMOR
“
A Psicanálise é, em essência, uma cura pelo amor.”
Freud, numa carta a Jung.
Freud, numa carta a Jung.
Qual o lugar do amor na Psicanálise? Esta é a pergunta que a
psicanalista Olivia Bittencourt Valdivia faz em seu artigo: “ A Linguagem
Interminável dos Amores”, e que tomamos como nossa. Como podemos
diferenciar o amor transferencial do amor cotidiano? Existe um amor
transferencial e um amor cotidiano distintamente? Será que o amor
transferencial não nos dão pistas sobre o amor cotidiano ou ainda será que
o amor cotidiano não nos dão pistas sobre o amor e ódio transferenciais?
“ Freud humano e apaixonado nos deixa os mapas de sua exploração.
Em seu percurso amoroso e sensual e autorizado pôr uma longa experiência clínica,
há muito se interrogava sobre a vida amorosa dos homens. Em fins do século
passado tentando entender a histérica percebeu que talvez ela quisesse dizer
alguma coisa com o seu corpo.
Alguma coisa que não conseguia dizer com palavras. E a histérica falou do
sexo, do amor, do ódio e da culpa. Freud sem querer, inaugurou o lugar da
Psicanálise, que é na verdade o lugar de uma relação de amor. Nesta relação
a libido refaz seus caminhos até a possibilidade de uma relação de amor com
o analista, que abre esta possibilidade para a vida do analisando. Freud
revolucionou a compreensão da noção de sexualidade colocando o sexual no
registro do pulsional, estabelecendo a idéia de uma impossibilidade de
satisfação, só encontrada através
da fantasia.”[1]
No rastro da sexualidade caminha o amor ou, como queiram, no rastro do
amor caminha a sexualidade. Assim como a meta da pulsão é satisfazer-se a
meta do amor é encontrar-se.
Aristófanes nos conta que nossa antiga natureza não era tal como a
conhecemos hoje e sim diversa. Os seres humanos encontravam-se divididos em três
gêneros e não apenas dois - macho e fêmea - como agora. Havia um terceiro gênero
que possuía ambas características e que era dotado de uma terrível força e
resistência e, além disso, de uma imensa ambição; tanto que começaram a
conspirar contra os deuses. Zeus e as demais divindades viram-se então tendo
que tomar providências para sanar tal insubordinação; tinham a alternativa
de extinguir a espécie com um raio, como haviam feito com os gigantes, porém
perderiam também as homenagens e os sacrifícios que lhes advinham dos
humanos. Pôr um outro lado permitir tal insolência pôr mais tempo era
impensável. Resolveu-se então parti-los ao meio, desse modo não
só se enfraqueceriam como também aumentariam de número. Assim foi
que até hoje, divididos como estamos, que
cada um infatigavelmente procura a sua outra metade.
Essa busca incessante aparece no discurso de nossos analisandos das
mais diversas formas, todos
desejam, em última instância ser amados. Todas as histórias narradas podem
ser lidas como histórias de amor.
Numa composição binária: atividade e passividade, sadismo e masoquismo,
paixão e recato, procura e espera, amar e ser amado, cada um à sua maneira e
todos numa mesma composição, desenvolvem o drama de suas paixões num palco
cercado pôr quatro paredes.
“A energia de Eros (libido), faz referência a tudo o que pode
sintetizar-se como amor, incluindo : o amor a si mesmo, aos pais, aos filhos,
à humanidade, ao saber e aos objetos abstratos. Nele convergem pulsões
parciais de ternura, ciúme, inveja e desejos sexuais orientados para os
mesmos objetos. O amor é , assim, apresentado como uma ampliação do
conceito de sexualidade e ao mesmo tempo ancorado na inadequação radical dos
objetos à satisfação sexual, vinculada a um fator de desprazer
inerente `a sexualidade humana.”[2]
Freud à partir dos três ensaios sobre a sexualidade, vai descrevendo
o processo de sexuação/subjetivação humana, como uma tentativa de convergência
das pulsões sexuais infantis (perverso polimorfo) à uma organização
genital adulta, na qual estaria presente a possibilidade de reprodução. Na
organização genital adulta, as pulsões se unificariam sobre o primado da
genitalidade e reencontraria então a fixidez e a finalidade aparentes do
instinto. Sabemos, entretanto, que este encontro/reencontro é da ordem do mítico.
A pulsão nunca se satisfaz; não pela “inadequação radical dos
objetos”, como coloca Olivia, mas pela inadequação da sua própria proposição
- satisfazer-se.
A pulsão cega, muda e perdida, encontra seus olhos, sua boca e seu
rumo no discurso amoroso. O discurso amoroso que, diga-se de passagem,
não recobre somente aquilo que entendemos como os belos gestos ou as
belas palavras, mas também os mais odiosos gestos e as mais estúpidas
palavras.
“ O discurso amoroso (odioso) sufoca o outro, que não encontra lugar
algum para a sua própria fala nesse dizer maciço. Não é que eu o impeça
de falar, mas sei como fazer para
deslizar os pronomes : Eu falo e você me ouve, logo nós somos (Ponge).
Às vezes, com terror, me conscientizo dessa inversão: eu que me acreditava
puro sujeito (sujeito submisso: frágil,
delicado, miserável) , me vejo
transformado em coisa obtusa, que avança cegamente, que esmaga tudo sob seu
discurso: eu que amo, sou coisa indesejável, faço parte do rol dos
importunos: aqueles que pesam, atrapalham, abusam, complicam, pedem, intimidam
(ou apenas simplesmente: aqueles que falam). Me enganei monumentalmente.
(O
outro fica desfigurado pelo seu mutismo, como
nesses sonhos terríveis onde certa pessoa amada aparece com a parte inferior
do rosto inteiramente apagada, sem boca; eu que falo , também fico
desfigurado: o solilóquio faz de mim um monstro, uma língua enorme.)”[3]
Este amor revelado num dizer maciço assemelha-se ao dizer psicótico;
parece-me que a condição do amor psicótico não leva em conta a distância
dos corpos, esta distância que aprendemos a respeitar e que às vezes
nos parece insuportável: “A gente sabe guardar distância: à mesa,
no trabalho, na rua, existe um espaço devido. Se me aproximo demais, coro,
desculpo-me. Por que tal distância? Eu quero companhia e quero solidão, mas
a distância convencional é menor que a pedida pelo desejo de estar comigo e
muito maior que a proximidade consoladora dos amigos que faltam.”[4]
A loucura não seria mesmo essa anulação da distância que sabemos
guardar uns dos outros? Não seria ela mesma um espécie
de verborragia que não levando em conta os espaços entres as palavras
inaugura uma outra linguagem? Linguagem que se estrutura para além ou aquém
dos sentidos alcançados pelos
eixos de referência usuais com os quais caminhamos? Caligaris dizia que se os
neuróticos organizam-se segundo um mapa terrestre, os psicóticos se
organizariam segundo um mapa estrelar!
Mas seria mesmo só da loucura todas estas atribuições? Me parece que
o ser apaixonado também almeja algo parecido: fazer de dois - um.
O ser apaixonado elege o seu amado`a condição de único, onipresente
em seus pensamentos e em seu corpo. Onipotente em suas capacidades. Me parece
que o ser apaixonado alcança o impossível, e por ser o impossível, não
perdura. O impossível é dar nome a algo inominável, é se apropriar de algo
inapropriável.
“Por uma lógica singular, o sujeito apaixonado percebe o outro como
um Tudo (a exemplo de Paris outonal), e , ao mesmo tempo, esse Tudo parece
comportar um resto que não pode ser dito. E o outro tudo que produz nele uma
visão estética: ele gaba a sua perfeição, se vangloria
de tê-lo escolhido perfeito; imagina que o outro quer ser amado como
ele próprio gostaria de sê-lo, mas não por essa ou aquela de suas
qualidades, mas por tudo, e esse tudo lhe é
atribuído sob a forma de uma palavra vazia, porque Tudo não poderia se
inventariado sem ser diminuído: Adorável!
não abriga nenhuma qualidade, a não ser o tudo do afeto. Entretanto, ao
mesmo tempo que adorável diz tudo,
diz também o que falta ao tudo; quer
designar esse lugar do outro onde meu desejo vem especialmente se fixar, mas
esse lugar não é designável; nunca saberei nada; sobre ele minha linguagem
vai sempre tatear e gaguejar para tentar dizê-lo, mas nunca poderá produzir
nada além de uma palavra vazia, que é como o grau zero de todos os lugares
onde se forma o desejo muito especial que tenho desse outro aí (e não de um
outro).”[5]
Discutindo sobre o conceito de objeto (a), na teoria lacaniana, Nasio
se pergunta: “Quem é o outro, meu parceiro, a pessoa amada? Quando Freud
escreve que o sujeito faz o luto do objeto perdido, ele não diz ‘da pessoa
amada e perdida’ e sim do ‘objeto perdido’. Por que? Quem era a pessoa
amada que se perdeu? Que lugar ocupa para nós a ‘pessoa’ amada? Mas, será
realmente uma pessoa?/ Coloquemo-nos
no lugar do analisando, que deitado no divã, pergunta a si mesmo: ‘Quem é
essa presença atrás de mim? É uma voz? Uma respiração? Um sonho? Um
produto do pensamento? Quem é o outro?’ A psicanálise não responderá que
o ‘outro é...’, mas se limitará a dizer: ‘ para responder a essa
pergunta, construamos o objeto (a).’ A letra (a) é uma maneira de nomear a
dificuldade; ela surge no lugar de uma não resposta”.[6]
De uma certa maneira poderíamos dizer que o apaixonado mimetiza a
letra (a) na pessoa amada. O ser
amado passa a ser a causa animadora dos desejos do ser apaixonado. Na ilusão de um ser
total, completo, no qual nada falta, que lhe pode dar tudo e negar nada. Numa
perspectiva lacaniana, o ser amado concebido desta maneira estaria no registro
do (A) , grande Outro não barrado. Podemos ver aqui, uma suposta causa de inúmeros
sofrimentos de amor, onde o ser apaixonado tenta alcançar no outro algo
impossível, um gozo impossível. O assassinato ‘por amor’ talvez reflita
um anseio, uma tentativa desesperada, de atingir o outro em sua
imaginada, desejada ‘essência’.
A desejada captura da ‘essência do outro’ na verdade refere-se à
uma busca de nós mesmos; uma
procura não apenas de uma suposta unidade
perdida, como também da força determinante, pulsional que nos atravessa e
nos constitui. Nos constitui como seres estranhos a nós mesmos. Talvez o ser
apaixonado reproduza inconscientemente a alienação primordial ao Outro, numa
tentativa de metabolizar (ao estilo da repeticão traumática) esta experiência
infantil alienante/constitutiva. Um mergulho na própria imagem especular.
Nossas associações nos
levam a pensar nas indicações de Freud quanto aos tipos de escolhas objetais
sob as quais uma pessoa pode amar; seriam elas do tipo narcísico e do tipo
anaclítico. Nunca encontramos essas categorias em seu estado puro, mas sim
mescladas , sobressaindo um pouco mais desta do que daquela. Na paixão o que
talvez se destaque seja o amor narcisista, o qual corresponderia à :
a) o que ela própria é, b) o que ela própria foi,
c) o que ela própria gostaria de ser, d) alguém que foi uma vez parte
dela mesma. Na atitude afetuosa dos pais para com os filhos, onde Freud
reconhece uma revivência e reprodução do
próprio narcisismo infantil dos pais, estaria um
modelo de amor, entre um homem e uma mulher adultos, do qual falávamos.
Como Freud postula existiria ainda o modelo de relação por apoio ou
anaclítico. A escolha objetal por apoio se
constrói à partir dos modelos das primeiras satisfações sexuais que se
derivam da satisfação adquirida pelas pulsões do ego ou de auto-preservação.
Entretanto, nos fica a pergunta, se não há ai também um
modelo predominantemente narcísico de ralação, pois como falávamos
acima, os cuidados dos pais para com os filhos, se baseiam, desde a idade mais
precoce, em princípios puramente narcísicos: “A criança terá mais
divertimento que seus pais; ela não
ficará sujeita às necessidades que eles reconheceram como supremas na vida.
A doença, a morte, a renúncia ao prazer, restrições à sua vontade própria
não a atingirão; as leis da
natureza e da sociedade serão ab-rogadas em seu favor; ela será mais um vez
realmente o centro e o âmago da criação - ‘Sua majestade o Bebê’, como
outrora nós mesmos nos imaginávamos.”[7]
Será que estas categorias, anaclítica e narcísica, realmente fazem
algum sentido para nós?
Será que o amor não é sempre um amor narcísico?
Cabe neste momento passarmos a fazer uma distinção entre o amor e a
paixão, entre o que concebemos como amor no sentido mais “pleno” da
palavra e o amor como sentimento fugaz, esvanecente.
Pudemos localizar apenas um aspecto do amor
quando definíamos o ser
amado no lugar do (A), grande Outro não barrado, ou seja
do outro que tem, que possui o que dá,
do outro supostamente completo. O amor propriamente dito, se situa
diante do Outro destituído do que dá, do
grande Outro barrado, (A), em outras palavras do outro reconhecido em sua
castração. Seria neste espaço que encontraríamos não mais a paixão, mas
sim o amor.
Eu sei do meu desejo de capturar o outro e fazer dele a minha semelhança,
eu sei que meu desejo me transborda e não reconhece diques, eu sei que por
‘amor’ sou capaz de matar para
me fazer existir.
No amor passa-se a saber não só sobre o próprio desejo, mas também
sobre O desejo e que frente a ele não
há um, e sim, dois. Quem disser que cabe só ao psicótico “esquecer” que
existe um outro distinto, com uma lógica que lhe é peculiar , autônomo e
independente em sua própria maneira de desejar e construir o mundo, com
certeza nunca terá se apaixonado.
Sócrates no ‘Banquete’, leva seus ouvintes à conclusão
de que o amor não pode ser belo; pois ama-se sempre aquilo que lhe
falta e o amor, que ao belo sempre ama, (quem ama o feio, bonito lhe parece) só
pode então ser destituído de beleza. Neste sentido o amor mostra uma de suas
facetas mais narcísicas: a pessoa
dirige seu amor ao que ‘ela própria gostaria de ser’, e porque não dizer
como Sócrates : ‘ ao que ela própria gostaria de possuir.’
Entretanto Diotima fará Sócrates avançar em sua retórica sobre o
amor...de uma maneira belíssima discorrerá por axiomas que irão chegar a um
resultado mais belo ainda. Não é
por ser o amor destituído de beleza que ele seja necessariamente feio (narcísico?)
dirá. O amor parece ser um intermediário entre os homens e os Deuses.
Equivalendo o amor ao bem, comenta algo assim: os homens desejam o bem,
mas não desejam só o bem e sim possuir o bem - e possuir o bem seria antes
possuir o bem para sempre. A fim de que desejariam possuir o bem para sempre?
“Em concreto, qual o efeito que eles (os amantes) visam (desejando
possuir o bem para sempre), sabes dizer-me?”
Sócrates coloca : “Se o soubesse, não estaria aqui a admirar a tua
ciência, Diotima, nem seguiria as
tuas lições para me instruir nessas matérias...”
Pois bem, Diotima diz : “o alvo do Amor não é de fato o Belo”,
como supõe Sócrates, mas sim “Gerar e criar no Belo!” E
gerar concretamente, pois para o ser mortal esta é a única via de se
perpetuar e imortalizar:[8]
“o Amor tem igualmente em vista
a imortalidade”[9]
Gostaria de acentuar com esta passagem que Diotima aponta para uma
possibilidade de amar que ultrapassa a esfera pessoal e culmina com a
criação, a qual se contrapõe à
repetição.
O amor em Freud nos leva a pensar o amor como repetição, estamos
inseridos numa cadeia de imagos, marcados pelas impressões infantis, das
quais não podemos nos furtar. “Quando amamos não fazemos mais que repetir;
encontrar o objeto é sempre reencontrá-lo e todo o objeto de amor é
substitutivo de algum objeto fundamental prévio à barreira do incesto.”[10]
Em seu artigo, Olivia coloca que, em contraposição à Freud, a boa
nova de Lacan foi mostrar que “há possibilidade de novos amores possíveis”,
“Lacan define o amor como aquilo que vem em suplência da relação sexual.
Na impossibilidade da relação sexual ligada ao Real, há uma reversão simbólica
permitindo ao sujeito a ilusão de que a relação sexual é possível. Na
medida em que é momentânea, não consegue manter a certeza e se dá outra
reversão imaginária que se revela como amor ”[11]
Penso que Diotima nos mostra
como o amor transcende o amor imaginário, através do ‘gerar no
Belo’ e amplia assim as possibilidades de suplência da ‘relação
sexual’.
Poderíamos ainda seguir discutindo sobre város temas que se abrem
quando falamos do amor, por exemplo quanto a especificidade do amor do homem e
do amor da mulher, que penso terem qualidades (e defeitos!) próprios, mas
temos que nos reconhecer castrados também em relação à nossa criação.
Quanto a disposição inicial
em discutir as
singularidades do amor de transferência do amor cotidiano não creio
que tenhamos feito muitos avanços. Miller discutindo sobre o amor de
transferência, numa das conferências de Caraquenhas, nos mostra como esta
distinção parece um tanto quanto arbitrária quando olhada com mais cuidado,
pois se reconhecermos o amor de transferência como “uma repetição
estereotipada das condutas inscritas no sujeito, dispostas a ressurgir quando
se lhes dá ocasião” , isto, como diz Miller “é certo para todo amor”.[12]
Assim como o amor não é algo do dia a dia, a entrada em análise também
não. Porém quando esta acontece é indicação que aquela já se tornou possível,
ou será ao contrário? A associação livre tem algo de uma postura alienada
em relação ao outro ao qual se dirige a fala. Um pouco como a fala do
apaixonado que com o seu discurso busca um sentido e um continente para sua
emoção. O analista como suporte e condicionador da fala do seu analisando,
aposta no inconsciente, transmitindo a idéia e a comprovação impírica, de
que no limite da fala , da palavra, pode ser encontrada a verdade sobre o
Outro que representa a si mesmo. Diríamos que o analista tem a função de
balizador do gozo[13]
do Outro, isto quer dizer que não só serviríamos como testemunhas da castração
como também seríamos um eixo de referência às modalidades do sujeito
gozar.
Deixamos de lado, influenciados pela tortuosidade e dispersividade que
o próprio tema provoca, talvez
uma das discussões principais deste trabalho, a saber: De que amor se trata ,
quando Freud , afirma que ‘a psicanálise é em essência uma cura pelo
amor’! Freud cientista, Freud céptico quanto à própria natureza do homem[14],
nos deixa um pouco embaraçados com uma afirmação como esta. Talvez tenhamos
que dar atenção ao interlocutor a quem se dirige a frase com o fim de
justificá-lo (desculpá-lo)? Mesmo assim, de que maneira?
Todavia temos ainda a possibilidade de acreditar que o amor a que se
refere Freud não é o amor judaico-cristão do qual descendemos, mas sim uma
outra espécie de amor. Uma outra espécie de ‘aproach’.
Mas, que espécie de amor/aproximação é esta?
Diríamos que a isto
que Freud dá o nome de amor poderia
ser pensado como todas as nossas condutas que, conscientemente ou não,
sintetizam a nossa ética, que num resumo um tanto grosseiro, significam:
saber que o sofrimento é algo inerente à condição humana, que não
podemos viver no lugar do outro algo que lhe é próprio, que não podemos
apartar o sofrimento de quem quer que seja , no máximo, acompanhá-lo.
BIBLIOGRAFIA
.
Valdivia, Olivia Bittencourt; “A
Linguagem Interminável dos Amores”; Jornal
do Federal
Nº34; 1993.
.
Freud, Sigmund; “Obras
Completas”; Ed. Imago; 1969.
.
Platão; “O Banquete”;
Edições 70; 1991.
.
Alain Miller, Jacques; “
Percurso de Lacan - Uma Introdução”; Ed.
Zahar; 1994.
.
Barthes, Roland; “Fragmentos de
Um Discurso Amoroso”; Ed.
Franciso Alves; 1995.
.
Herrmman, Fabio; “Andaimes do
Real - Livro I”; Ed.
Brasiliense; 1991.
.
Nasio, J.-D.; “Cinco Lições
Sobre a Teoria de Jacques Lacan”;
Ed. Zahar; 1993.
.
Souza, Paulo Cézar (organizador);
“Freud & O Gabinete do Dr. Lacan”;
Ed. Bras.; 1990.
.
Milan, Betty; “O que é Amor”;
Ed. Brasiliense; 1991
[1]
Valdivia, “ A Linguagem Interminável dos amores”.
[2]
Idem nota (1)
[3]
Barthes, “Fragmentos de um Discurso Amoroso”, pag.148
[4]
Herrmann, “Andaimes do
Real”, pag.103.
[5]
Barthes, “Fragmentos de um Discurso Amoroso”, pag.14
[6]
Nasio, “Cinco Lições sobre a Teoria de Jaqques Lacan”, pag.93/92.
[7]
Freud, “Sobre o Narcisísmo: Uma Introdução”, pag.108.
[8]
O desejo da imortalidade (supondo universal) também deveria ser objeto de
investigação! Porque desejamos a imortalidade? Porque não podemos
simplesmente morrer? Desejamos a imortalidade pelo medo da morte ou por
amor à vida? E o que há na vida que causa tanto amor a ela?
[9]
Platão, “O Banquete”, pag.76/77
[10]
Bittencourt, idem nota (1)
[11]
Bittencourt, idem nota (1)
[12]
Miller, “Percurso de Lacan - Uma Introdução”, pag.66
[13]
Sabemos da complexidade do conceito, porém para este trabalho não foi
possível desenvolvê-lo. Para aqueles interessados no tema recomendo o
livro do Nasio, citado aqui.
[14]
Numa entrevista belíssima, perto
do final de sua vida, Freud comenta, ao passear pelo jardim de sua casa em
Londres, que preferia “a companha dos animais à companhia dos
humanos” , e referindo-se ao
desejo de imortalidade diz não tê-lo: “Se reconhecemos os desejos egoístas
por trás de toda conduta humana, não temos o mínimo desejo de
voltar...para que serviria isso ,sem memória”. “Não me faça parecer
um pessimista - disse ele após o aperto de mão . - Eu não tenho
desprezo pelo mundo. Expressar desdém pelo mundo é apenas outra forma de
cortejá-lo, de ganhar audiência e aplauso. Não, eu não sou um
pessimista, não enquanto tiver meus filhos, minha mulher e minhas flores!
Não sou infeliz - ao menos não mais infeliz que os outros.”
- Paulo Cézar Souza,
‘Freud e o Gabinete do Dr. Lacan’.
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